sábado, 28 de julho de 2012

A Praia e o Musseque

Íamos à praia de manhã mas ficámos sem carro.
O José Carlos teve de ir trabalhar e o Pedro ainda só tem autorização para conduzir o carro dele.
A Sandra e o Ricardo disseram que iam connosco à praia e depois íamos directos à festa de aniversário no musseque em Prenda, um bairro muito, muito pobre e degradado. Musseques são favelas. E eu aprendi que não devemos ir a um só porque não temos onde ir. É preciso estarmos preparados. 

A Praia
O moço que pede dinheiro à saída do carro. O arame farpado a cercar a praia. O Resort onde entramos para termos acesso à praia. Os chapéus-de-sol do restaurante caro com os arames partidos. As palmeiras tristes, fechadas e feias porque estão sujas.

No mar bóiam sacos de plástico, pedaços de madeira, latas de coca-cola e garrafas de água vazias no meio de uma enorme mancha de gordura. Não conseguimos entrar na água por estar tão suja. Fiquei imensamente triste.


A Festa de Aniversário
Primeiro choque: a barata do tamanho de uma noz, esmagada no chão, com o líquido esbranquiçado em volta dela.
O cão com a pata partida que se arrasta e faz ferida ensanguentada no interior do pulso.
O cheiro do esgoto, ao ar livre que escorre desde a casa-de-banho improvisada no interior directamente para o passeio na rua, passa pelo quintal.
O bebé de uma vizinha que chora de dor e ninguém lhe liga absolutamente nenhuma.

Entrámos. Sempre simpáticos, ofereceram-nos o almoço, comi um pouco... 

Comecei a lavar a loiça para dar uma ajuda. Três alguidares: 1 com água com detergente de lavar roupa à mão... sem esfregão... outro água para passar a louça já lavada e o 3º para por a enxugar...
A Sandra mandou comprar esfregões para a loiça. No entanto, mesmo ao lado do esgoto e eu estava a desfalecer...
Ainda lavei imensa loiça mas a determinada altura estava a agoniar-me.
Foi a minha primeira desistência. Pedi para virmos embora.
Aprendi que:
  1. tenho os meus limites e tenho de os respeitar;
  2. para viver em África tenho de ter o mínimo de condições.

1 comentário:

  1. Pois...
    Estávamos numa casa de classe média, paredes rebocadas, pintadas, um professor, militante do MPLA,uma educadora de infância.
    Imagina a vida nas cubatas...
    Todos temos os nossos limites, mas nem todos sabem quais são.
    Tudo é relativo, aqui usa-se muito a expressão:
    "Isto aqui não é o Congo!"

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Obrigada por não ter vergonha em se despir publicamente!